domingo, 22 de junho de 2008

AGOSTO/FERRAGOSTO



[a criptográfica linguagem dos símbolos]


é agosto

transfiguras o sossego peregrino
no pátio do desassossego
aprisionando deuses
em pedra ao sol
à sombra do mistério de tuas óbvias igrejas

a luz devasta o silêncio
seca o verde
pressente esquecimento
atrás do tempo que vem cedo
na fuga inexplicável de um dia de ocaso

o anoitecer encarcerado
no céu metálico de um dia agonizante
longe da verdade
é puro fogo

tudo são restos desolados
da mortalidade eterna
ignorando Cristo
que Roma não venera nesse dia extremo

Roma, agosto de 2003



FERRAGOSTO



ruas e ruelas trilhas místicas
vigília em torno do nada
míticos brilhos em céu excessivamente claro

o sol aquece o espaço
sem mais vida
em apáticos sujeitos e horas vãs
nenhum ruído
incomunicado
o instante abafa a consciência estarrecida

vultos e sombras invisíveis
silêncio sideral
sentimento do nada
talvez a energia da morte

a vibração solar emana em pedras nuas
em pleno meio-dia no tempo elementar
o dia obscenamente quente crepita em fragmentos
no espaço aquecido por um sol de medo

versos perplexos
furtam meu juízo indecifrado
das razões irreveladas

a esfinge do universo estilhaça o espanto
no espelho inclemente sem sentido

zênite
no mau sentido de um dia vazio

Roma, Ferragosto de 2004.

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