segunda-feira, 23 de junho de 2008

PARA LUCIANA

LUZES

para Luciana Stegagno Picchio




Teus olhos
doces
vagam vagas vagas
vagas horas
no tempo
perdidas
a navegar o vento
plenas
de amores passados
suspiros
doces venenos…

Sombra aparente
esconde
passageiramente
tua imagem
teus olhos
teu pensamento
fantasia
teu estro
sorgenti
de amor e razão.

Duas estrelas
teus olhos miram
o sol brilhante
o dia claro
o invisível espaço
no teu passar manso
de passar passando
a vaguear as musas
Beatrice Laura Dinamene
o céu a terra o vento sossegado
[1]
na véspera de não partir nunca.
[2]

Ciò che m’ incontra, ne la mente more,
quand’ i‘ vegno a veder voi, bella gioia…
[3]

Dancemos dancemos a dança em cadência
juntos
ao fim da jornada clara
oh! Ninfa minha
assim não deixarás
quem não deixara nunca de querer-te.
[4]

Todos nesta selva escura
em verdade temos medo
do destino
dos fados
de nossa vida incompleta
esse silêncio surdo
de um solitário horror.

Nascemos no escuro
cheiramos flores de medo
vestimos panos de medo.
[5]
De medo fugimos
descendo o rio
mas não deixamos de amar.

Olho-te imito
espelho
que me agrada e me assusta
mas por enquanto quero
teu rosto
teu gesto a palavra
esperança.

Ao fim de um dia escuro
não há abismo
nem eterno olvido
nem fim ou heresia
ainda que chores
ou mesmo suspires.

Seja em Roma ou Babilônia
faz dia
para quem se nutre
do que cria.

Hoje
eu tomo alegria!
Eis aí porque vim assistir este baile de terça-feira gorda!
[6]

Roma, 15 de julho de 2004.


[1] Camões
[2] Pessoa
[3] Dante, “Vida Nova”, soneto VIII
[4] Camões
[5] Drummond
[6] Manuel Bandeira

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