domingo, 22 de junho de 2008

MEMÓRIA



--------------------------------------1

esta é a memória do canto desolado
do silêncio melancólico
das casas nas montanhas de cor cinza
frias
onde se ergue o paesino em pedra

vulcão no horizonte de todos os destinos
homens e mulheres nivelados
no assombro de uma velha casa arruinada
constrangidos

recupero a alegria de momentos felizes
nas alvoradas claras dos claros dias
do tempo na vigília do futuro
em histórias do passado

ciclo da beleza de crianças
a rodar o canto e roda
metáfora de todos os encantos
cores
alegria das primeiras flores

…infinito silenzio a questa voce
vo comparando: e mi sovvien l’eterno,
e la morte stagione, e la presente
e viva, e il suon di lei.
[1]

linguagem da contradição com a tristeza em tempo de pobreza

retomo a sobriedade de adultos
camponeses ao redor da mesa vazia
socorrendo o fim consumido em claro
crucificados no instante

longe a ilha esfumaçada insiste em não ser esquecida
como fantasma a fumegar o tempo

--------------------------------------2

meus olhos são memória debruçada
sobre o canto da cigarra de novembro
em torno da pedra da verdade fugidia
na esperança destruída
ilha em casa aquecida
fogo crepitante acalentando a vida

a verde encosta no existir adormecido
a reviver o sentimento dos olhos sonhadores
à porta entreaberta da poesia
como luz que ilumina olhos
e recorda os que se foram
talvez numa elegia à velha casa vazia
aparentemente nua e fria

verde encosta verdes vidas
verde enigma
verde como saudade



Roma, outubro de 2004.
[1] Leopardi, “L ‘Infinito - …infinito silêncio a esta voz/vou comparando: e me sobrevém o eterno,/e a morta estação, e a presente/ e viva, e o som dela..

Nenhum comentário: