domingo, 22 de junho de 2008

DESTINO

[destino revisitado]



o sonho dentro de meu sono
desperta a lembrança enriquecida
da vida que perfumou outros perfumes
e se foi na gota de saudade

silêncio de castanhas céu e solidão
eis o cenário
que povoa a memória de meus sonhos

a montanha a pedra à distância respiram à luz do vento
lá onde se aninha o refúgio do pastor

ovelhas magras cabras enchem de balidos
o tempo de emoções na curva do passado
ritmadas

a irrealidade da tarde passa mansa onde a brisa sopra
vidas atrás de janelas semi-cerradas
diferentes a olhar a gente nunca indiferente
que olha a gente a olhar gente…

a tarde pedregosa debilita o alento entreaberto
nas frestas entorpecida
em seu sossego escape da esperança

é fine della giornata
I pensieri s’intrecciano nel tempo
come a provocarmi il verso
campane suonano mentre dormo e sogno
il passato rimpianto e lacrime
a dire adio
tra boschi e campi e fiori
per il viaggio dell’ultima loro speranza
[1]
o sonho do destino

vastos longos dias entre tardes mornas frias
a noite silenciosa do destino imaginário é sonhadora
sol e lua
na encosta em pedregosa via da subida
luar ensolarado
fímbria de luz insinuada na modesta escura casa
a desejar o paraíso

enrodilhando montes gerações decifram
os caminhos enredados que alguém ainda trilha
em torno de si mesmo
girassóis na insistente busca do ritmo do sol
único parceiro que ficou

o céu ainda é claro mas desmaia
no distante firmamento nestes ermos
cujos sons sólidos severos
ensimesmados
ecoam solenes nas ruas desalmadas

ora já não sei se vultos são fantasmas ou deuses
imutáveis nas estações do tempo
no consolo perseguido
no regresso desejado
em teias afetivas
dos que deixaram tudo
para correr o rio de outras vidas

a gente se recolhe na penumbra
para construir a sua noite

sola nel mondo eterna a cui se volve
ogni creata cosa,
in te, morte, si posa
nostra ignuda natura,
lieta no ma sicura
dall’ antico dolor…
[2]

estou inteiro aqui
outra vez nos mesmos montes
pedras
e o destino entregue
à morte impressentida à vida ignorada
aqui onde me espera a impalpável lembrança

não sinto o transe da saudade mas saudade
nos dias claros da lua solitária em noite doce
que me relembra todos e ainda brilha
su.


Roma, setembro de 2004.


[1] É fim do dia./Os pensamentos enlaçam-se no tempo/ como a inspirar-me o verso./ Sinos soam enquanto durmo e sonho/o passado, saudade e lágrimas/ a se dizer adeus/em meio a bosques e campos e flores/para a viagem/ de sua última esperança,…
[2] Só eterna imortal no mundo a que retornam/ todas as coisas criadas, em ti, morte, nossa nua natureza repousa/, não feliz mas segura de sua antiga dor… Leopardi, “Coro dei Morti”

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